O amor (nada) próprio


Começo dizendo que você vai ouvir que para amar o outro, deve amar a si mesmo... mas como é possível amar alguém com o qual não gosta do que conhece, não tolera os próprios defeitos, que tem dificuldade de relacionar-se com si mesmo?
Rasgada a pele, triturado o coração, a alma a mercê de todo sentimento alheio;
O frio que dói a espinha e o calor que queima a ferida é indescritivelmente difícil se amar.
Às vezes você sorri, mas na maior parte do tempo você chora;
Às vezes você está ali na multidão de amigos e parentes, mas você se sente tão somente só que em um quarto escuro sozinho parece estar mais bem acompanhado;
Às vezes, só às vezes, a sua alma parece querer viver, mostrar para você mesmo que nada disso que você pensa é real, e que existem possibilidades para alguém como você...
Mas também, às vezes, o medo pode tomar conta e a vontade de não ter vontade precede o desejo de não sair da cama de manhã e buscar aquilo com o qual você estava determinado a buscar, ontem mesmo...
Algumas vezes, os parentes vão dizer a você, que você sempre foi tímido e que depressão é só falta do que fazer e, você... bem, você vai acreditar neles, afinal depressão é falta de uma pia cheia de vasilhas sujas para lavar...
Mas às vezes, você decide que retrucar é uma saída e que pedir ajuda não parece fraqueza, mas que a ajuda às vezes não ajuda necessariamente;
Às vezes, na maior parte das vezes, você pede ajuda com medo de obtê-la, pela incerteza de que você realmente quer receber essa ajuda, mas também, às vezes, pode acontecer de simplesmente ter alguém pra te segurar no choro ser a maior ajuda que alguém pode te dar;
Às vezes, também, pode acontecer de você chorar sem motivo aparente, mas o turbilhão de pensamentos não cessam, o amor esgota, a paciência se esvai, a tristeza aconchega e a solidão parece ser tão íntima que já conhece cada canto favorito seu...
Mas pode acontecer de às vezes, o seu medo de levantar e fazer alguma besteira ser tão grande, que bem... você está conscientemente inconsciente sobre as consequências dos atos que você possa vir a cometer;
Mas às vezes, você parece tão bem, tão linda, tão sorridente que se você contar, bem... ninguém vai acreditar.
Mas na maior parte das vezes, ninguém acredita mesmo...
Só mesmo alguém, com amor tão propriamente próprio pra saber a essência e proeza de conviver com alguém que de amor (nada) próprio não entende...